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Category Archives: Direitos reprodutivos e sexuais

A fístula consiste num orifício que liga a vagina à bexiga, causado por um parto demasiadamente demorado sem intervenção médica imediata, como uma cesariana. A ausência de uma resposta médica eficiente revela corolários pungentes: a incontinência crónica da parturiente e, na maior parte dos casos, a morte do seu bebé recém-nascido.

A optimização do sistema de saúde na Europa e na América Latina provocou o seu desaparecimento nestas áreas geográficas há mais de cem anos. Contudo, constitui ainda um problema agudo no continente africano, asiático e no Médio Oriente.
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) está a promover, desde 2003, uma campanha mundial para a eliminação da fístula que atinge, actualmente, mais de dois milhões de mulheres nos países em desenvolvimento.
Erradicação da Fístula até 2015:
A eliminação da fístula a nível mundial depende da “vontade política e de uma colaboração mais intensa entre os Governos, grupos comunitários, ONGs e profissionais da saúde” e erige-se em três fases: prevenção, tratamento e reintegração.
· Prevenção:
A erradicação da fístula passa indubitavelmente pela prevenção. Acesso a cuidados de saúde eficientes durante a gravidez, promoção de uma maternidade segura, bem como a autonomização feminina e o banimento de desigualdades sociais e económicas são passos cruciais.
· Tratamento e reintegração:
A fístula é reversível na maior parte dos casos por meio de uma simples intervenção cirúrgica, aliada à prestação de apoio afectivo, económico e social. A campanha está a investir na formação de profissionais, na modernização dos equipamentos e dos centros de tratamento.
Anabela Santos 

A cada segundo, minuto e hora, ciclos de vida dissolvem-se nos meandros das hipócritas sociedades da hodiernidade. Refiro, designadamente, aos milhões de mulheres que perdem a vida na gravidez ou no parto.

Anualmente, mais de 500 mil mulheres morrem devido a complicações surgidas no período de gestação, o que representa mais de 10 milhões de mulheres num espaço de uma geração. Todos os anos, mais de um milhão de crianças ficam órfãs de mãe devido à mortalidade maternal. Hemorragias, infecções, abortos praticados em condições insalubres e ataques são as principais causas de mortalidade materna.

A taxa de mortalidade materna é reduzida nos países industrializados, bem como se manifesta em decréscimo na Ásia de Este e América Latina. Contudo, no continente africano e no Sul da Ásia, as complicações surgidas durante a gravidez e o parto constituem a principal causa da mortalidade feminina.

· Contracepção e aborto:
Inúmeras vidas poderiam ser poupadas se a distribuição e o acesso a meios de contracepção eficientes fossem assegurados. Anualmente, cerca de 68 mil mulheres morrem por causa de abortos praticados em condições medíocres. Grande parte dos problemas decorrentes de abortos poderia ser evitada se as mulheres dispusessem de contraceptivos eficazes.

· Assistência médica:
A nível mundial, somente 62 por cento dos partos têm assistência médica qualificada. Nos países desenvolvidos, a maioria das mulheres usufrui de acompanhamento especializado. Nos países em desenvolvimento, a taxa é de 57 por cento. Nos países menos avançados, a taxa desce aos 34 por cento. As mulheres que sofreram infibulação – forma extrema de mutilação genital feminina –, são mais vulneráveis à ocorrência de complicações durante e após o parto.

· Faixa etária mais vulnerável:
As jovens com idade compreendida entre os 15 e os 20 anos têm maiores probabilidades de morrer durante o parto que as mulheres com idade entre os 20 e 29 anos. Menos de 20 por cento das jovens sexualmente activas em África recorre a métodos contraceptivos.

· Direitos femininos:
A redução da taxa de mortalidade materna é somente conseguida através da universalização do acesso a métodos contraceptivos, a acompanhamento médico especializado durante a gravidez e o parto e a cuidados de obstetrícia.
A taxa de mortalidade materna correlaciona-se negativamente com a condição da mulher na sociedade. Quanto mais elevado e reconhecido for a posição da mulher, menor será a taxa de mortalidade materna e vice-versa. O casamento precoce, a mutilação genital e as gravidezes não desejadas decorrentes de abusos sexuais mostram o quanto a mulher não tem autonomia sobre o uso do seu próprio corpo.

Anabela Santos