Adaptação do livre em filme estreia no dia 29 de Janeiro.
“─ Não ─ disse Bruno ─ Não percebo porque não podemos passar para o outro lado. Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para aquele lado brincar?
…
─ Bruno – disse ela num tom de voz infantil, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo ─ A vedação não está ali para nos impedir de passar para aquele lado. É para os impedir a eles de passarem para este.” ( 2007:149)
Nasceram os dois a quinze de Abril de 1934, não são irmãos gémeos e pouco têm em comum. Dois meninos nascidos no mesmo dia, mas com realidades totalmente diferentes. Simplesmente porque um vivia na Alemanha, e outro vivia na Polónia. Porque um é filho de um militar e outro filho de um fabricante de relógios. Porque um é alemão e outro é judeu.
A obra de John Boyne, que venceu vários prémios literários, não é fácil de ler, pois logo nos primeiros capítulos percebe-se que a mudança de casa do pequeno Bruno não será fácil. As dificuldades serão maiores, mais do que deixar a sua casa com cinco andares de Berlim, mais do que a separação com os seus três melhores amigos para a toda a vida, muito mais do que isso, essa mudança vai ser mais drástica.
Com nove anos não percebe muito bem a profissão do pai, sabe que usa uniforme, e que o fúria como ele lhe chama (Führer como é conhecido), tem projectos para ele. As suas únicas certezas que tem é que se tem de mudar por causa da profissão do pai, que a sua irmã é um caso perdido e que não vai ser feliz na sua nova casa (Auschwitz) ou Acho-Vil como ele lhe chama.
Bruno sente falta de diversão e de amigos, gosta de explorar e por isso decide contra as ordens do pai se afastar da casa. Vai do outro lado ver as pessoas com pijamas às riscas, que consegue ver da sua janela e conhece Shmuel. Uma amizade genuína cresce entre os dois meninos que deveriam, segundo as regras dos adultos, ser inimigos.
“─ Eu quero ser soldado ─ disse Bruno com determinação. ─ Como o meu pai
─ Eu não ia gostar de ser soldado ─ disse Shmuel.
─ …Estou a falar de ser soldado como o meu pai. Um soldado dos bons.
─ Não existem soldados bons ─ disse Shmuel.”
A segunda guerra mundial vista pelos olhos de uma criança, e o drama do campo de concentração através de o retrato de um menino. O holocausto explicado aos mais novos pelo olhar de dois inocentes que nunca chegam a perceber realmente o que se passa, nem o perigo que correm. Uma explicação que parece, sempre, se impor pois não é preciso ter nove anos para não compreender, como e porquê , este drama aconteceu.
Apesar de todas as separações, a amizade foi mais forte e conseguiu vencer, com final irremediavelmente trágico, o poder de uma vedação.
Sylvie Silva Oliveira