Um racismo à moda nacional em “português suave”. É a discriminação subtil que actua, habitualmente, de forma discreta e mais ou menos escondida. Assim começava a reportagem da jornalista Elisabete Barata, “Português suave”, transmitida, ontem, na TVI.
Há racismo em Portugal? A reportagem pretendia ouvir as queixas das vítimas e a opinião dos portugueses sobre o tema. Este parece ser bem actual, por ser o ano europeu do diálogo inter-cultural, pela recente eleição nos Estados Unidos, pelos conflitos ocorridos no verão …
No clima de insegurança que se vive, a crise económica, o aumento de criminalidade (ou de noticias sobre ou tema), pretende-se encontrar um culpado. Os imigrantes e as minorias étnicas, tais bodes expiatórios da sociedade, são logo injustamente apontados. Assim os piores ressentimentos surgem à superfície: as piadas, os olhares reprovadores, a discriminação, a xenofobia, a violência.
As imagens eram ilustradas por casos que nos horrorizam, demonstração de puro racismo, que nos chocam profundamente. Como o caso de Djariatú Mané, que viu o seu filho de três anos ser retirado de um baloiço, por um senhor que colocou lá o seu próprio filho. Perante a sua reclamação, disse qualquer coisa como: “ Volta para o teu país”. Estamos a falar de um simples baloiço, agora não é difícil imaginar as reacções face a um emprego, por exemplo. Algumas pessoas questionadas na rua, atestavam estas situações com várias expressões que todos já ouvimos: “ Vem para cá roubar o nossos empregos”; “ Destruir os nossos casamentos”; “Criam instabilidade”…
Frases que não diferem muito do discurso do líder do Partido Nacional Renovador, José Pinto Coelho: “Ainda bem que existe várias culturas, mas cada um no seu lugar”.
O sociólogo, Bruno Peixe acredita que o racismo é mais camuflado, já não é numa lógica de aquele é diferente. Mas essa discriminação vê-se em expressões, gestos. “ Dizem português e ciganos, como se os ciganos não fossem portugueses”, explica.
Já nem comento as afirmações de Mário Machado, da extrema-direita. “É uma colonização. Eles para mim não são portugueses. O português transmite-se pelo sangue”. Enfim.
No meio de tanto disparate fica a esperança nos mais anos, que já desde cedo tiveram programas de sensibilização, mais informados, e apresentam um discurso mais tolerante. “ Ser racista é não saber conviver com as outras pessoas” (Catarina), “é bom ser diferente” diz Tomáz, “se fossemos todos iguais era uma grande chatice” concluía Cláudia.
Parecem já ter percebido muito mais que “os adultos”.
Tolerância à moda portuguesa. Porque não?
Sylvie Silva Oliveira