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O visual tem cada vez mais importância e a publicidade possui uma grande importância social, mais do que reproduzir ela cria representações. Este alerta é uma luta de sempre das/os feministas que estudam e denunciam, nomeadamente, a imagem das mulheres na publicidade.

Este combate parece ao longo das décadas não possuir muito apoio e sofre muita resistência por parte dos anunciantes que insistem em representar a mulher como “fada do lar” ou como “objecto sexual”.

Basta ligar a televisão para nos depararmos com publicidade, que nos parece de pós guerra, com mulheres felizes por limpar o pó ou por ter ganho um novo electrodoméstico que vai lhe facilitar a vida. Apesar da indignação nada parece mudar nestes spots de televisão, nos cartazes ou nos jornais.

De tempo a tempos a Entidade Reguladora da Publicidade decide dar sinais de vida. No último mês, a L’ARPP, autoridade em França decide censurar um cartaz a anunciar os concertos de um cantor francês, no metro de Paris. Para a autoridade que regula a publicidade em França este cartaz «  apresenta um carácter degradante da mulher na medida em que ela aparece nua, e num carrinho de compras, logo como uma mercadoria ».

O que parece incomodar mais no cartaz não será certamente a imagem da mulher semi-nua, ou então a publicidade deveria ser revista em todos os seus formatos. Ninguém fica chocado quando uma mulher é representada nua para uma marca de perfume, vestuário, maquilhagem, creme ou carro, mas associar a imagem de uma mulher nua como forma de crítica já se torna intolerável. A palavra em cima da imagem e título do álbum “ Acuso” parece incomodar mais do que a nudez em questão.

Em resposta o cantor Damien Saez, defende a sua capa e o seu álbum “J’accuse”, e afirma que parece impossível criticar abertamente a sociedade de consumo. Segundo ele “ é o Deus carrinho de compras que querem proteger e não o corpo da mulher”. O fotógrafo, Jean Baptiste Mondino explica que a imagem é precisamente o objecto da contestação, uma critica à obscenidade do consumo.

A segunda versão do cartaz substituía a fotografia pelo seguinte texto: “A fotografia inicialmente prevista para esta publicação foi proibida nos corredores dos metros. Acuso”. A alteração pareceu não agradar da mesma forma aos anunciantes e foi proibida igualmente.

Os concertos já passaram, a polémica parece que veio para ficar ….

 

Sylvie Silva Oliveira 

Mais de 200 milhões de crianças continuam a ser forçadas a trabalhar diariamente no Mundo, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), salientando que “três em cada quatro desses menores estão expostos às piores formas de exploração laboral – tráfico humano, conflitos armados, escravatura, exploração sexual e trabalhos de risco, entre outros-, actividades que “prejudicam de forma irreversível o seu desenvolvimentos físico, psicológico e emocional”.

Na mensagem divulgada no âmbito do Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, que se assinala hoje, a OIT afirmou que este ano as comemorações vão dar ênfase aos desafios no combate ao trabalho infantil, sobretudo aquele tipo de trabalho que envolve raparigas; discutir o impacto que a crise económica mundial pode ter no agravamento deste flagelo e enfatizar o papel fundamental da educação na solução do problema.

A OIT defende que a “abolição efectiva” da exploração laboral das crianças – “são privadas de direitos básicos, como educação, saúde, lazer e liberdades individuais” – é um “mais urgentes desafios do nosso tempo”. Por isso, as comemorações marcam também a adopção da simbólica Convenção n.º 182 da OIT sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil.

Fonte: Jornal de Notícias, 12.06.09

 

 

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( Adverte-se as/os mais distraídas/os  que o texto reveste-se de carácter irónico, ou seja, a mensagem veiculada defende o casamento homossexual).

1. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma questão fracturante, a discriminação não causa fractura na sociedade, nem tem consequências reais sobre as pessoas;

2. Sou a favor da lei da Constituição da República que consagra o direito à não discriminação com base na orientação sexual. Excluir o direito de decisão às pessoas homossexuais sobre o querer ou não casar não é discriminação, é simplesmente dizer que eles não são como os heterossexuais;

3. Eu respeito que os homossexuais possam ter acesso às uniões de facto,  mas casar não.  Isto é, podem ter direitos desde que não sejam os mesmos que os meus.

4. Porquê chamar casamento? Já que se trata exactamente dos mesmos pressupostos, porque não chamar um nome diferente quando se tratar do “casamento deles”?

5. O casamento Gay põe em risco a instituição do casamento, já que os homossexuais parecem ainda os únicos a pedir algo que cada vez mais é desvalorizado. Se mais pessoas se casam era definitivamente o fim da instituição;

6. A instituição do casamento não pode ser desrespeitada, vamos deixá-la intocável e como sempre esteve. O local de opressão onde os homens mandam e as mulheres submetem-se. Porquê mudar algo que sempre funcionou tão bem?

7. Os homossexuais não podem ter filhos juntos, vamos já retirar direitos às pessoas inférteis que também podem ser perigosas já que não podem ter filhos “ naturalmente”;

8. Os homossexuais são um perigo para as crianças, porque é provado que nenhum heterossexual maltrata e desrespeita as crianças;

9. Os homossexuais vão ser maus pais porque podem-lhe passar os genes da homossexualidade, que receberam dos pais heterossexuais;

10. Um estado que promova a igualdade e os direitos humanos não pode permitir que pessoas homossexuais tenham os mesmos direitos que os outros;

11. …..

Sylvie  Silva Oliveira

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Era uma vez uma história feliz, e deixaram de fora as outras;
Falaram-me do amor, mas esqueceram-se da violência;
Narraram-me os afectos e omitiram os murros, estalos e gritos;
Fantasiaram o príncipe encantado, mas ninguém me falou do agressor;
Contaram-me o primeiro encontro, mas não as discussões;
Murmuram-me as palavras eloquentes e juras de amor eterno,
E passaram ao lado das violações, insultos e humilhações;
Encheram a minha mente de happy ending com casamento,
Como se a infelicidade no matrimónio não existisse.
Viveram realmente felizes para sempre? Ou juntos e miseráveis toda a vida?
Até que a morte os separe!!! Porque não se separar antes???
Porque é que os adultos não gostam de contos?
Talvez por já perceberem a realidade.

 

Sylvie Silva Oliveira

No âmbito do 1º Aniversário do Núcleo de Braga da União de Mulheres Alternativa e Resposta, propomos um mês de Março recheado de iniciativas que prometem expressar os feminismos em Bracara Augusta.

 

Tertúlia ‘As (R)evoluções do Dia Internacional da Mulher’

tertulia1Sáb. 7 MAR, 21h45
Estaleiro Cultural da Velha-a-Branca
Moderação: Sara Magalhães |UMAR

A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) convida todas e todos para a tertúlia ‘As (R)evoluções do Dia Internacional da Mulher’ no sentido de pensar o surgimento, o percurso e a importância da efeméride na sociedade actual.

Carla Cerqueira
Doutoranda em Ciências da Comunicação
Universidade do Minho

Não há um consenso quanto ao marco histórico que esteve na origem do Dia Internacional da Mulher. No entanto, as posições predominantes apontam para a luta das operárias por melhores condições de vida. Sabe-se que o Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin, em 1910, no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas. Existe, portanto, uma omissão da verdade histórica que está na génese da efeméride, mas a partir dessa altura começou a celebrar-se o dia em vários países. A data de 8 de Março tornou-se preponderante e em 1975 a ONU instituiu a efeméride, que se começou a celebrar em Portugal desde essa altura. Mais de trinta anos depois, várias foram as conquistas, mas há ainda um longo caminho a percorrer nas mais variadas áreas.

Pedro Pinto
Investigador em Psicologia Social na área de Estudos de Género e Teorias do Corpo
Universidade do Minho

No dia em que celebramos a conquista de liberdades, urge que questionemos os novos significados do discurso “mulher” na nossa sociedade. De que mecânicas se alimenta hoje o sexismo? Quais as formas de opressão das novas indústrias para mulheres? Quais as implicações de uma identidade “feminina” construída por uma ideologia de consumo?
Partindo de uma leitura feminista queer das linguagens mediáticas actuais, propõe-se reflectir sobre as políticas de representação da mulher e do corpo “feminino” no capitalismo contemporâneo.

 

Acção de rua: ‘Feministiza-te’

accao-de-rua1Dom. 8 MAR, 15H30
Avenida Central

A União de Mulheres Alternativa e Resposta convida as/os bracarenses a juntar-se à acção de rua ‘Feministiza-te’, na qual serão acenados cartazes com slogans a remeter para a situação da mulher em Portugal e no mundo.
Paralelamente, no âmbito da campanha ‘Não sou cúmplice’, o núcleo de Braga colocará 43 bandeiras pretas sinalizadas num jardim do centro que correspondem ao número de mulheres assassinadas em 2008 vítimas de violência doméstica.

 

Concurso de Fotografia ‘Onde estão os feminismos?’

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De 7 a 14 de MAR 2009
Entrega de Trabalhos Fotográficos

A União de Mulheres Alternativa e Resposta desafia todos e todas a participar no Concurso de Fotografia “Onde estão os feminismos?”. O objectivo consiste em fomentar, reconhecer e premiar a criatividade na área da fotografia, ao mesmo tempo que promove a reflexão sobre feminismos na actualidade.

Parceiro nesta iniciativa, o Estaleiro Cultural da Velha-a-Branca exporá a totalidade dos trabalhos em concurso. O júri do concurso é encabeçado pelo fotógrafo Hugo Delgado.
A inscrição é gratuita!

O regulamento do concurso estará on-line dentro de poucos dias.  

 

Festa Feminista UMAR

the-clitsSáb. 28 MAR, a partir das 23h
Insólito Bar

A comemoração do 1º Aniversário do Núcleo de Braga culmina com a Festa Feminista, que contará com a actuação dos ‘The Clits’. Criado em 2006, consiste num projecto electro-punk feminista, de cariz interventivo e performativo, composto por Ana Leorne (voz) e Lena F. (voz, guitarra e programações). Estes estrearam-se, editando sob a forma de EP, The World Is A Mess But My Hair Is Perfect, que contém sete faixas, entre as quais Girl Next Door e Somebody Else’s Body. Também farão parte de uma compilação da campanha patrocinada pela LEVI’S, juntamente com Bonde Do Role, Juliette and The Licks, The Go! Team, Operator Please, entre outros.
Os dj’s DuArte e Pitt Pull darão continuidade à festa com música electrónica.
DuArte iniciou o seu trabalho de dj em 1995 e assume residência no Insólito Bar há nove anos. É um dos co-fundadores da editora independente Meifumado.
Pitt Pull, por seu turno, faz parte da primeira geração de produtores portugueses de techno minimal. Desde 2001, o dj actua em diversos clubes e eventos nacionais, tendo também tocado na França, Inglaterra, Espanha e Brasil. É profundamente feminista.

A UMAR divulgará na Festa Feminista o trabalho fotográfico vencedor, atribuindo o respectivo prémio e também uma menção honrosa. 

A entrada é de 3 euros.
Participe!

União de Mulheres Alternativa e Resposta

Núcleo de Braga

http://umarbraga.wordpress.com/

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«Nasce-se mulher ou homem, não se nasce socialista ou comunista, ou social-democrata.»

Madalena Barbosa, Que força é essa

 

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As vítimas de violência doméstica vão poder recorrer à teleassistência, além da pulseira electrónica a usar pelo agressor, que pode ser sujeito a medidas de coação após a denúncia. A versão final será debatida a 12 de Fevereiro.

Um juiz pode declarar arguido um agressor, logo que a vítima apresente queixa. Esta é, segundisse, ao JN, o secretário de Estado da Presidência, Jorge Lacão, uma das alterações inscritas na versão final do projecto de proposta de lei de prevenção da violência doméstica e protecção à vítima, entrada, no dia 19, no Parlamento. Na versão submetida à consulta pública, o estatuto da vítima só era conferido ao queixoso, quando e se o agressor viesse a ser constituído arguido. “Trata-se de uma mudança importante porque imprime maior celeridade ao processo e resultou da audição pública que promovi a 6 de Janeiro”, refere o governante e redactor do diploma.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e a União Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) tinham criticado que, no texto inicial, “o encontro restaurativo” entre as partes fosse promovido para permitir a “restauração da relação pessoal existente”, o que foi entendido como ajudar o agressor a regressar ao lar.

A redacção mudou e assim “durante a suspensão provisória do processo ou o cumprimento da pena pode ocorrer esse encontro desde que haja o consentimento expresso de ambos”, refere Lacão.

Além disso, “foi clarificado que o encontro (na presença de um mediador) poderá servir para restaurar a paz social, atendendo aos legítimos interesses da vítima”.

O que não mudou foi o consentimento obrigatório do agressor para lhe ser aplicado um meio electrónico de viligância, vulgo: a pulseira electrónica.

A APAV e a UMAR contestaram esta anuência do agressor, mas Jorge Lacão justifica que não pode ser de outra forma e que se o agressor recusar a pulseira, corre o risco do juiz lhe decretar uma medida de coação mais pesada, como a prisão preventiva.

Na versão anterior, a vigilância à distância só era prevista para o agressor. Agora a vítima também pode usar meios de teleassistência para pedir ajuda, como “pager” ou telemóvel.

Fonte: Jornal de Notícias

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A história pode-se repetir? Será que estamos livres de um regime totalitário? Os alunos de uma turma de secundária, que demonstram no início total desinteresse pela questão, pensavam que sim. Um projecto na aula de Autocracia na Alemanha, acaba por tomar proporções impensáveis.

 A experiência pretendia reproduzir na sala de aulas um regime ditatorial, para tal o grupo, baptizado A Onda, possuía uniforme comum, regras autoritárias, chefe (o professor), logótipo, e uma forma de saudação. Todos os elementos pareciam reunidos para exemplificar como surgem este tipo de regimes, os factores e ideologias que os unem, os contextos sociais que os favorecem.

O que a experiência escolar não previa era a reacção dos alunos. Uma turma de adolescentes com famílias problemáticas, uns sem autoconfiança, outros sem espírito de liderança, sem laços e amizade que encontram na experiência de grupo segurança e entreajuda, e claro um guia através da obediência ao seu líder.

Pouco a pouco as coisas fogem de controlo, quando  começam a discriminar quem não partilha dos seus ideais, e começa a viver somente para o grupo. Face a situação o professor vê-se obrigado a terminar com a experiência, mas já foi tarde de mais. Acabando com um final que se previa trágico os jovens, que estavam tão seguros de si, absorviam sem pensar as palavras do líder e estavam dispostos a fazerem tudo o que ele pedisse, nem que fosse uma guerra.

A história, inspirada num episódio real ocorrido na Califórnia (EUA) em 1967, alerta para a facilidade com que as nossas certezas podem ser abaladas, para a fragilidade da nossa opinião própria face a um pensamento de grupo. Este movimento colectivo que nos pode  levados a tomar decisões e fazer acções irracionais.

Afinal poucos dias depois da experiência começar parecia esquecido o discurso inicial de que não poderia voltar a existir um regime fascista porque estavam mais esclarecidos. Parece que eles não estavam, apesar de conhecer a história como o repetiam nas primeiras cenas. E nos estamos mesmo? As nossas convicções são assim tão seguras? 

Sylvie Silva Oliveira

Adaptação do livre em filme estreia no dia 29 de Janeiro.

 

 

“─ Não ─ disse Bruno ─ Não percebo porque não podemos passar para o outro lado. Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para aquele lado brincar?

─ Bruno – disse ela num tom de voz infantil, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo ─ A vedação não está ali para nos impedir de passar para aquele lado. É para os impedir a eles de passarem para este.”  
( 2007:149)

 

Nasceram os dois a quinze de Abril de 1934, não são irmãos gémeos e pouco têm em comum. Dois meninos nascidos no mesmo dia, mas com realidades totalmente diferentes. Simplesmente porque um vivia na Alemanha, e outro vivia na Polónia. Porque um é filho de um militar e outro filho de um fabricante de relógios. Porque um é alemão e outro é judeu. 

A obra de John Boyne, que venceu vários prémios literários, não é fácil de ler, pois logo nos primeiros capítulos percebe-se que a mudança de casa do pequeno Bruno não será fácil. As dificuldades serão maiores, mais do que deixar a sua casa com cinco andares de Berlim, mais do que a separação com os seus três melhores amigos para a toda a vida, muito mais do que isso, essa mudança vai ser mais drástica.

Com nove anos não percebe muito bem a profissão do pai, sabe que usa uniforme, e que o fúria como ele lhe chama (Führer como é conhecido), tem projectos para ele. As suas únicas certezas que tem é que se tem de mudar por causa da profissão do pai, que a sua irmã é um caso perdido e que não vai ser feliz na sua nova casa (Auschwitz) ou Acho-Vil como ele lhe chama.  

Bruno sente falta de diversão e de amigos, gosta de explorar e por isso decide contra as ordens do pai se afastar da casa. Vai do outro lado ver as pessoas com pijamas às riscas, que consegue ver da sua janela e conhece Shmuel. Uma amizade genuína cresce entre os dois meninos que deveriam, segundo as regras dos adultos, ser inimigos.

“─ Eu quero ser soldado ─ disse Bruno com determinação. ─ Como o meu pai
 ─ Eu não ia gostar de ser soldado ─ disse Shmuel.
─ …Estou a falar de ser soldado como o meu pai. Um soldado dos bons.
─ Não existem soldados bons ─ disse Shmuel.”

A segunda guerra mundial vista pelos olhos de uma criança, e o drama do campo de concentração através de o retrato de um menino. O holocausto explicado aos mais novos  pelo olhar de dois inocentes que nunca chegam a perceber realmente o que se passa, nem o perigo que correm. Uma explicação que parece, sempre, se impor pois não é preciso ter nove anos para não compreender, como e porquê , este drama aconteceu.

Apesar de todas as separações, a amizade foi mais forte e conseguiu vencer, com final irremediavelmente trágico, o poder de uma vedação.

Sylvie Silva Oliveira

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“Acho que não ficamos cegos. Acho que sempre fomos cegos. Cegos apesar de conseguirmos ver. Pessoas que conseguem ver, mas não enxergar.”                                                                            

  José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira

 

Tão difícil falar sobre este ensaio, tão complexo escrever sobre esta obra, tão problemático adaptá-lo aos ecrãs de cinema, tão impossível de ficar indiferente à sua mensagem.

O desafio do filme era enorme atacar-se a uma obra de Saramago e conseguir transmitir as emoções do seu livro Ensaio sobre a Cegueira. José Meireles fê-lo.

Como no livro as personagens não tem nome, como no livro não há espaço preciso, nem tempo definido, isso não interessa, esta é uma história universal. As causas são desconhecida, o que se sabe é que um homem num semáforo fica cego. O primeiro a ver tudo branco mas certamente não o único. Um após um acaba por cegar: o ladrão que lhe rouba o carro, a sua mulher, o oftalmologista, a mulher de óculos escuros, o homem da venda preta, o menino …

A solução encontrada pelas autoridades face a ameaça é a quarentena, onde as personagens são enclausuradas tal prisioneiros sem condições mínimas. Num espaço fechado começa a luta pela sobrevivência, mas depressa a solidariedade deixa lugar a violência quando um grupo, liderado pelo rei da ala 3, pretende chefiar com violência, intimidação e violações.

A mulher do oftalmologista, a única que não chega a cegar apesar de o desejar, não deixa de ser a que mais sofre com a condição. Como afirma, o pior do que está cego, é ser a única a enxergar. Difícil parece ser assumir a encargo de ser a única a ver, no meio do caos. A sua preocupação, primeiro somente com o marido, começa a alargar-se. Nós assistimos, tal como ela,  à degradação da situação, ela observa mas tem dificuldade em agir. Com ela questionamo-nos de que forma somos responsáveis uns pelos outros, e conseguimos ver-nos. 
Pouco a pouco torna-se líder improvisada de um grupo de sete pessoas, decide agir contra o “rei” e retira a sua “família” da clausura ajudando-os a enfrentar o mundo exterior.

Levado aos ecrãs esta metáfora, sobre o mundo de sobrevivência, violência, desordem,  é perturbadora. Esta parábola não pode deixar de nos transtornar, já que infelizmente espelha tão bem o melhor e o pior que há em nós. Um retrato da nossa realidade e sociedade, um verdadeiro mundo de cegos.

Sylvie Silva Oliveira