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Monthly Archives: Maio 2008

Escritora portuguesa, natural de Lisboa. Estudou na Faculdade de Letras de Lisboa, enveredando depois pela carreira jornalística. Dirigiu o ABC Cine-Clube e fez parte do grupo Poesia 61. Colaborou em jornais e revistas (Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Jornal de Letras e Artes, Hidra 1, entre outros) e foi chefe de redacção da revista Mulheres. Feminista, publicou, com Maria Velho da Costa e Isabel Barreno, as Novas Cartas Portuguesas (1971), cujo conteúdo levou as autoras a tribunal.
A sua obra encontra-se marcada por uma forte tendência de experimentação e exploração das potencialidades da linguagem, numa escrita impetuosa e frequentemente sensual. Estreou-se com a obra poética Espelho Inicial (1960), a que se seguiram, Tatuagem (1961), Cidadelas Submersas (1961), Verão Coincidente (1962), Amor Habitado (1963), Candelabro (1964), Jardim de Inverno (1966), Cronista Não é Recado (1967), Minha Senhora de Mim (1971), Poesia Completa (1983, dois volumes), e as obras de ficção Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970), Ana (1975), A Educação Sentimental (1975), Os Anjos (1983), Ema (1984), O Transfer (1984), Rosa Sangrenta (1987), Antologia Política (1994), A Paixão Segundo Constança H. (1994) e O Destino (1997). Em 1999, lançou a obra A Mãe na Literatura Portuguesa, constituída por uma longa introdução da autora, depoimentos de várias individualidades, uma antologia de poesia e prosa de escritores portugueses e no fim um conjunto de quadras e provérbios, tudo em torno da temática da mãe. Em 2001, publica Minha Senhora de Mim.

Fonte: “As Tormentas”

ANJOS MULHERES – VI

 

As mulheres voam
como os anjos
Com as suas asas feitas
de cristal de rocha da memória

Disponiveis
para voar

soltas…

Primeiro
lentamente uma por uma

Depois,
iguais aos passaros

fundas…

Nadando,
juntas

Secreta a rasar o
chão

a rasar a fenda
da lua

no menstruo
por entre a fenda das pernas

Às vezes é o aço
que se prende
na luz

A dobrarmos o espaço?

Bruxas
pomos asas em vassouras
de vento

E voamos

Como as asas
lhe cresciam nas coxas

diziam dela
que era um anjo do mar

Rondo alto,
postas em nudez de ombros
e pernas

perseguindo,

pelos espaços,
lunares
da menstruação

e corpo desavindo

Não somos violencia
mas o voo

quando nadamos
de costas pelo vento

até à foz do tempo
no oceano denso
da nossa própria voz

Sabemos distinguir
a dormir
os anjos das rosas voadoras

pelo tacto?

Somos os anjos
do destino

com a alma
pelo avesso
do utero

Voamos a lua
menstruadas

Os homens gritam
– são as bruxas

As mulheres pensam
– são os anjos

As crianças dizem
– são as fadas

Fadas?

filigrama cintilante
de asas volteando
no fundo da vagina

Nadamos?

De costas,
no espaço deste século

Mudar o rumo
e as pernas mais ao
fundo

portas por trás
dobradas pelos rins

Abrindo o ar
com o corpo num só golpe

Soltas,
viando
até chegar ao fim

Dizem-nos
que nos limitemos ao espaço

Mas nós voamos
também
debaixo de água

Nós somos os anjos
deste tempo

Astronautas,
voando na memória
nas galáxias do vento…

Temos um pacto
com aquilo que
voa

– as aves
da poesia

– os anjos
do sexo

– o orgasmo
dos sonhos

Não há nada
que a nossa voz não abra

Nós somos as bruxas da palavra

Maria Teresa Horta

Reintegrada no exército a soldado lésbica

Em 2003, o presidente Bush havia elogiado a sua coragem, que tinha “contribuído directamente para a boa consecução de missões importantes sob condições de extremo perigo”. Um ano depois, a major da US Air Force Margaret Witt foi suspensa do serviço sem indemnização e à espera de julgamento e, por fim, despedida com honra. Motivo: fontes anónimas revelaram aos seus superiores que estava envolvida numa relação lésbica com uma civil. Um caso como muitos no exército EUA, que teve na semana passada um desfecho inesperado: o Tribunal de Recurso de Seattle anulou a medida, sentenciando que a orientação sexual não é mais condição suficiente para decidir o afastamento de um militar.     

Política do silêncio. Na base da contenda está don’t ask, don’t tell policy, ou “política do não perguntes, não reveles”, do exército norte-americano, que proíbe as pessoas homossexuais ou bissexuais de revelar abertamente a sua orientação sexual e os comandantes de a indagar. Introduzida em 1993 pela administração Clinton, o procedimento era uma espécie de compromisso entre a possibilidade de recrutamento gay prometida na campanha eleitoral e a rígida proibição nos anos 40. “A orientação sexual não será uma barreira no acesso ao serviço militar – citando as linhas do Pentágono para a sua aplicação – pelo menos, as que não se manifestam em conduta homossexuais, ou actos homossexuais, manifestações explícitas de homossexualidade ou bissexualidade, casamentos ou noivados com alguém do mesmo género”. Em poucas palavras, os gays podem alistar-se desde que não a mostrem de algum modo e, se o fizerem, serão imediatamente demitidos. Um passo anterior em relação ao banimento total, mas ainda bem longe de garantir aos homossexuais a possibilidade de servir livremente o exército, como demonstra o facto de os despedimentos por motivos de orientação sexual continuarem ao ritmo dos 600-700 por ano (dados do Service members legal defence network).

Opiniões contrastantes. Nos últimos anos, as críticas a don’t ask, don’t tell intensificaram-se, sobretudo por causa da forte necessidade de novas alavancas para os conflitos em curso no Iraque e Afeganistão. Em Dezembro 2007, um grupo de vinte e oito generais e almirantes aposentados pediram oficialmente ao Congresso para revogar a lei, referindo um relatório segundo o qual os gays seriam pelo menos 65 mil entre os militares em serviço e mais de um milhão entre os veteranos. E poucos dias depois, em 8 de Maio, um discurso aos diplomatas da academia militar de West Point, o actual chefe de Estado maior Mike Mullen reforçou a ideia, sustentando que “é só por vontade do Congresso, não do exército, que ainda está em vigor a proibição do recrutamento de homossexuais e bissexuais”. “A homofobia está, por isso, muito radicada nos ambientes da Armada norte-americana, como demonstra, por exemplo, a declaração do general Perter Pace, datada de 2007, segundo a qual “os actos homossexuais são imorais e não seriam perdoados” e ainda que ”não seria bom para os Estados Unidos uma política que consinta seres de algum modo imorais”. 

A última decisão. Segundo os críticos, a sentença do Tribunal de Recurso de Seatle demonstraria que a discussão política teria os dias contados. Na realidade, os juízes não atacaram directamente os don’t ask, don’t tell, mas limitaram-se a sustentar que, para justificar os despedimentos de um homossexual do exército, deve-se demonstrar que a sua presença é efectivamente prejudicial para a coesão das forças e prontidão para a acção e que o seu afastamento é o único modo possível de levantar a moral do grupo. “A US Air Force – escreveu nas suas motivações o juiz William C. Canby Jr. – deve demonstrar que a aplicação da política é necessária para satisfazer um interesse governativo imprescindível, e não se sobreponha ao permitido”. Uma asserção que, explicou um dos advogados do major Witt, obrigará cada mandíbula das forças armadas a justificar cada aplicação da regra: “Neste sentido, muitos outros vencerão causas contra o exército. Que ao fim, esperemos, concluirá que a policy é estúpida e é tempo de a mudar”. 

Versão original: AQUI!

Tradução: Anabela Santos

A Save the Children identificou casos no Haiti, na Costa do Marfim e no Sudão. A ONG propõe a punição dos abusadores e incentivos à denúncia.

62% das queixas de abusos sexuais não tiveram resposta no  ano em que foram feitas.  Contam-se 532 no total de 856 casos ocorridos entre 2004 e 2006 a centenas de crianças em zonas de conflito que têm sido vítimas de abusos sexuais por elementos das missões de paz das Nações Unidas e de organizações não governamentais (ONG).

A denúncia foi feita pela ONG britânica “Save the Children”, num relatório divulgado ontem e que implica membros de 23 organizações internacionais, na Costa do Marfim, no Sudão e no Haiti.

As vítimas são órfãos e crianças separadas dos familiares ou pertencentes a famílias que dependem da assistência humanitária. Embora a maioria tenha entre 14 e 15 anos, há casos de abuso sexual envolvendo meninas de seis anos, bem como rapazes. E o mais grave, segundo a “Save the Children”, é que a maior parte das situações não é conhecida porque as vítimas têm medo de falar.

A nossa pesquisa sugere que as crianças e as suas famílias não falam por causa de um misto de medo, ignorância, impotência e pelo receio de serem estigmatizadas“, lê-se no documento. Por outro lado, “as crianças que trocam sexo por comida nem sempre estão dispostas a comprometer esta táctica de sobrevivência“, acrescenta a “Save the Children”.

O relatório dá voz a um adolescente sudanês: “As pessoas não denunciam estes casos porque têm medo que as organizações abandonem o território e nós precisamos delas“.

Por entender que refrear os abusos e a exploração sexual obriga, antes de mais, a romper o silêncio, a “Save the Children” propôs a criação de um observatório internacional capaz de monitorizar o problema e o reforço dos mecanismos de denúncia e de protecção às vítimas.

Além dos mecanismos que incentivem a denúncia, que são cruciais para que isto não continue escondido, temos mesmo de ser capazes de garantir assistência médica, psicológica e legal a estas crianças“, precisou ao PÚBLICO Johanna Mac Veigh, uma das responsáveis da “Save the Children”, afiançando que a ONU já “prometeu empenhar-se na implementação destas medidas“.

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Portugal: Maus tratos policiais e violência doméstica denunciados no relatório da Amnistia Internacional

O relatório da Amnistia Internacional (AI) 2008 indica que, em Portugal, persistem os episódios de violência contra as mulheres, bem como os casos de violência policial e consequente impunidade. O documento – que tem como objectivo traçar a evolução anual do cumprimento dos direitos humanos em todo o mundo – nomeia ainda a passagem dos voos da CIA transportando alegados terroristas por solo português. Durante a apresentação do relatório, a AI apelou aos governos de todo o mundo que peçam desculpa por seis décadas de falhanços nos direitos humanos e que se voltem a comprometer com metas mais concretas.

Sob o título “Alegações de maus tratos pela polícia e subsequente impunidade”, o relatório dá conta do caso Albino Libânio, um recluso do Estabelecimento Prisional de Lisboa que teria sido alegadamente espancado por sete guardas prisionais em 2003. Os guardas foram, porém, absolvidos em tribunal, em Maio de 2007 – quatro anos depois dos factos – por ausência de prova em julgamento.

No que toca à violência contra mulheres, o relatório reproduz os números apresentados pelo Governo, em Julho do ano passado, que indicavam que, durante 2006, 39 mulheres foram mortas pelos maridos. O relatório indica ainda o arranque do terceiro Plano Nacional contra a Violência Doméstica, em Junho, que previu o acesso gratuito a tratamentos médicos por parte das vítimas.

Sobre a migração, o relatório refere a nova lei da imigração, que entrou em vigor no dia 4 de Julho e que, de acordo com o relatório, “deu certos direitos legais aos imigrantes que esperam a decisão de expulsão ou admissão em território português, com especial ênfase para os menores desacompanhados”. Simultaneamente, o relatório sublinha que a nova lei especificou igualmente que o auxílio à imigração ilegal de maneira a que ponha em risco a vida dos imigrantes constitui um tratamento desumano e degradante que poderá ser punido com uma pena de prisão que pode variar entre os dois e os oito anos. “Vítimas de tráfico deixaram de ser classificadas de imigrantes ilegais”, refere ainda o documento.

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“(…)
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste…”

E a busca da justiça continua”
Sophia de Mello Breyner

No dia 19 Maio de 1954, Catarina Eufémia levantou a voz contra a injustiça da Velha Senhora.

Cansada da exploração laboral, decidiu reivindicar um aumento do salário junto do feitor da propriedade onde trabalhava. O feitor, receando a rebelião dos trabalhadores, chamou o proprietário e um tenente. Perante este último, Catarina Eufémia terá reafirmado os motivos da sua pacífica manifestação – “trabalho e pão” –, palavras que despoletaram um acção agressiva no guarda: bofeteou-a e empurrou-a para o chão. Ao levantar-se, Catarina ripostou: “Já agora mate-me!”. E foram estas as suas últimas palavras. Foi assassinada com três balas à queima-roupa.

Catarina Eufémia aspirou lapidar no rosto de Portugal os ideais de justiça e perseverança e, por isso, tornou-se símbolo da emancipação feminina e da resistência do proletariado rural alentejano contra a repressão do Estado Novo.

Porque “a busca da justiça continua”, iremos recordá-la sempre.

Anabela Santos

 

Alcilene Cavalcante (de Oliveira), María Xosé Agra Romero, Miriam Nobre, Miriam Pillar Grossi e Sónia Alvarez são as convidadas estrangeiras a intervir no Congresso Feminista, que se realiza entre 26 e 28 de Junho. Estas convidadas representam diversas correntes de feminismo e da luta pelos direitos da mulher.
“Os convites às conferencistas estrangeiras” obedeceram a uma “lógica diferente da habitual”, disse ao PÚBLICO Manuela Tavares, uma das promotoras do congresso. O objectivo é “tornar visível o trabalho produzido em países como o Brasil ou a Espanha, que muitas vezes fica ocultado pelas “grandes” produções teóricas anglo-saxónicas ou francófonas”.
Para Manuela Tavares, os convites obedeceram também à “necessidade de dar uma visão do feminismo como uma corrente plural”, acreditando que aí “pode vir a residir a sua força”.
É também objectivo do Congresso “dar expressão a novos trabalhos feitos no âmbito do mundo académico e do activismo que não têm tido visibilidade e oportunidade de se exprimir nos congressos convencionais”.
Alcilene Cavalcante (de Oliveira), brasileira, doutorada em Literatura, é membro do movimento Católicas pelo Direito de Decidir.
María Xosé Agra Romero, espanhola, é professora de Filosofia Moral e Política na Universidade de Santiago de Compostela.
Miriam Nobre, uma engenheira agrónoma brasileira, é coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres.
Antes, Miriam Nobre estudou temas como a economia feminista e a questão agrária, tendo colaborado em muitos grupos de trabalho do governo brasileiro.
Miriam Pillar Grossi, professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina, foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia entre 2004 e 2006. Integra o conselho editorial da revista Estudos Feministas.
Sónia Alvarez é investigadora e professora na Universidade da Califórnia, no Estados Unidos da América, e está ligada aos movimentos sociais e feministas na América Latina. É, desde 2003, vice-presidente da Associação de Estudos Latino-Americanos.

Fonte: Jornal “Publico” [24.05.08]

 

 

O coordenador do estudo “Um Olhar Sobre a Pobreza”, Alfredo Bruto da Costa, não tem dúvidas: os baixos salários são um problema grave, que contribui para a pobreza em Portugal. É preciso aumentar os ordenados e democratizar as empresas.

É mesmo verdade que metade da população portuguesa está numa situação vulnerável à pobreza?

É mesmo assim. Este é um aspecto da pobreza que, em Portugal, é analisado pela primeira vez: quantas pessoas, ao longo de seis anos, passaram pela pobreza e foram apanhadas como pobres em pelo menos um dos anos. A opinião pública, enquanto tal, nunca foi confrontada com esta realidade.

E a opinião pública pergunta: onde estão os pobres?

Esse é outro problema: o da definição de pobreza. Quando se pensa em pobreza, pensa-se em miséria ou nos sem-abrigo. O pobre, na definição adoptada no estudo, é alguém que não consegue satisfazer de forma regular todas as necessidades básicas, assim consideradas numa sociedade como a nossa. Miséria é uma parte disso.

Apesar de tudo, mais vale ser pobre em Portugal do que em alguns países de África ou da Ásia?

Sim, em termos absolutos. Em termos relativos, não necessariamente. Porque a pobreza é um fenómeno social, não apenas individual: é não ter recursos para participar nos hábitos e costumes da sociedade. Se uma criança pobre não pode vestir-se como os seus colegas, para não ser ridicularizada, mesmo que tenha mais que uma criança em África, sofre de exclusão.

O que é preciso para não ser estigmatizado em Portugal é muito mais do que em outros países. Há uma definição do século XIX, que diz que uma pessoa é pobre quando não tem dinheiro para vestir uma camisa que seja aceitável na sociedade.

Os 47 por cento de famílias que viveram uma situação de pobreza não são o mesmo que a taxa de pobreza em Portugal que continua nos 20 por cento.

Há uma população, num determinado momento do tempo, que é analisada através de uma radiografia instantânea – são os 20 por cento. Outra coisa é uma sociedade cuja vida só é captada num estudo longitudinal, ao longo de um período.

Porque se fala da persistência da pobreza em Portugal?

A partir da entrada de Portugal na Comunidade Europeia, houve um facto que alterou a atitude da sociedade portuguesa perante a pobreza: Portugal passou a ter programas de luta contra a pobreza, através de metodologias que deram um salto qualitativo no modo de encarar e tratar a pobreza. Poderíamos esperar que a pobreza tivesse uma redução apreciável.

E não teve?

Não teve. Em 2004, terá sido de 19 por cento, em 2005 terá sido 18 por cento. É uma tendência? Falta ver o que se passou nos anos seguintes. O que sabemos é que, durante esse período de 20 anos, andámos à volta dos 20 por cento. Mesmo que se admita que houve uma tendência ligeiramente decrescente, não explica que a ordem de grandeza se situe nos 20 por cento. A pobreza em Portugal ou se manteve estável ou teve uma redução sem proporção com o esforço feito desde que Portugal entrou na UE, na luta contra a pobreza.

E qual é razão principal?

São várias. Mas há uma questão chave: é tempo de a sociedade se interrogar sobre o porquê esta resistência da pobreza perante tanto esforço, boa vontade, recursos, nos últimos 20 anos.

Neste estudo, não entrámos no porquê. Estamos muito virados para a ideia de que a luta contra a pobreza é igual a políticas sociais. Quando há uma percentagem tão elevada de famílias pobres entre pessoas empregadas, vê-se claramente que a política social é um instrumento útil, mas não resolve tudo. Pode ser decisivo para o terço de pensionistas ou para o outro terço, de outros inactivos como domésticas, que nunca trabalharam nem tencionam trabalhar. Aí, ou a sociedade portuguesa resolve valorizar economicamente o trabalho doméstico e tem uma modalidade de remuneração – o que seria uma revolução cultural – ou isso nunca se resolve.

A outra parte – os pobres que estão empregados, por conta própria ou por conta de outrem – não se resolve com política social, é um problema económico.

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No último dia 15, a Greenpeace do Japão denunciou um tráfico de carne de baleia no mercado japonês. Alegando ser bagagens pessoais, a tripulação do navio da frota japonesa Nishin Maru transportava 23 kilos de carne. O valor de mercado dessas peças podia chegar a 3000 dólares.

O tráfico não era novo, e estes transportes ilegais se destinavam ao mercado negro e alimentavam restaurantes japoneses. A polémica suscita várias questões, nomeadamente a nível sanitário, assim estes transportes estão isentos de qualquer controle sanitário. Algumas caixas continham, aliás, carne de baleias que possuía tumores.

De recordar que desde 1986, existe uma norma para impedir a caça à baleia para fins comerciais. O Japão continua, no entanto à caça, sob pretextos de ser para “ fins científicos”. Esta questão vem relançar a controvérsia e a pouca fiabilidade desta justificação. 

A Greenpeace continua as suas acções e no terreno tenta impedir o ataque a esta espécie protegida.

Sylvie Silva Oliveira

A candidata à Casa Branca Hillary Clinton, em atraso na campanha democrata, denunciou ontem os ataques sexistas que a “magoaram profundamente”, enquanto algumas mulheres a ajudavam e diziam-lhe para permanecer na corrida.

A antiga Primeira Dama, que parece ter chegado ao crepúsculo da sua campanha, exprimiu-se pela primeira vez sobre o que os seus apoiantes denunciam desde o inicio, como os comentários, as t-shirt e outros produtos derivados centrados no facto de ela ser mulher.

“É profundamente insultante para os milhões de mulheres”, afirmou numa entrevista ao Washington Post. “ Esta campanha teve inovação em vários aspectos. Mas ela também colocou desafios, tendo em conta a atitude de certos medias”, acrescentou relativamente à candidatura a campanha democrata que vão culminar, pela primeira vez na História americana, na eleição de um negro ou de uma mulher.

Para a senadora de Nova Iorque, a campanha não foi manchada pelo racismo, apesar do racismo parecer menos tolerado na sociedade americana que o sexismo, “ Deve existir um tratamento igual ao sexismo e ao racismo quando ele toma proporção horríveis”, afirmou.

“Parece que pelo menos a imprensa não esteja tão preocupada pelos incríveis ataques e comentários de pessoas que não são mais nada senão misóginos”, acrescentou.

Mulheres que apoiam a sua candidatura mobilizaram-se e a apoiaram ontem, pedindo que permanecesse na corrida até ao fim.

“Calma aí … ” apela um página inteira, financiada pelo grupo WomenCount no New York Times, enquanto que apelos de recuos na corrida da senadora se multiplicam para unificar o partido democrata atrás do candidato que está a frente da batalha, Barack Obama.

“A voz de Hillary é NOSSA voz e ela fala para nos todas”, afirma a organização, que acrescenta: “Nós queremos que Hillary fique na corrida até que cada boletim de vota seja depositado na urna, até que cada voto seja contabilizado, e que saibamos que os nossos votos foram ouvidos”.

Este pedido acontece enquanto que Barack Obama ambiciona de terça tomar uma vantagem decisiva sobre a rival na ocasião das primárias nos Kentucky (centro este) e Oregon (Norte Oest), passando a etapa da maioridade absoluta dos delegados simples.

Por sua vez, a antiga candidata democrata à vive presidência Geraldine Ferraro, única mulher que conseguiu aparecer num ticket presidencial até à data nos Estados Unidos, em 1984, acredita que o sexismo podia explicar a derrota aparentemente iminente da senhora Clinton.

O sexismo latente esteve presente neste país, há muito tempo. Nesta campanha,  ele foi muito visível, afirmou a NBC esta antiga conselheira da senhora Clinton. “ Não é aceitável ser racista neste país (mas) é quase aceitável ser sexista”, acrescentou, ela que criou uma polémica em Março, ao afirmar que Obama não teria tido sucesso “ se não tivesse sido Branco”.

Ferrero falou de uma T-Shirt que surgiu num dos meeting de Hillary Clinton no New Hampshire, no qual se podia ler: “Engoma a minha camisa”. “Imaginem alguém dizer, no mesmo meeting de Barack Obama: “Engraxa os meus sapatos”, esta pessoa tinha sido incendiado nos medias”, acusou.

Tradução

Versão original aqui                                                                                                            

 Sylvie Silva Oliveira

Walk The World 2008

“Já vai na 6ª edição o “Walk the World” – “Marcha contra a Fome”, uma iniciativa surgida no âmbito de uma parceria entre o Programa Alimentar das Nações Unidas e a empresa TNT. Já se espalhou por mais de uma centena de países. Tem por objectivo minimizar as carências alimentares e educacionais das crianças de todo o mundo.

Uma tão nobre iniciativa merece o nosso apoio e participação. Como muito bem questionava o Papa João Paulo II na “Tertio Millennio Ineunte”: “Como é possível que ainda hoje, no nosso mundo, haja quem morra de fome?” É uma pergunta que bate no centro da avaliação final que a todos será feita: “Estava com fome… e destes-me (ou não) de comer…”

A data escolhida foi o dia 1 de Junho 2008 (Domingo). Haverá a Marcha e ao mesmo tempo a Corrida para quem o desejar.

No acto da inscrição no valor de 10€, destinados ao o Fundo Alimentar da ONU recebe-se uma t-shirt e um boné. Essa quantia é insignificante para algumas pessoas; para outros é impossível. Por isso quem puder que adopte a forma normal; quem não puder acompanhe a marcha sem t-shirt; o mais importante é dar um sinal de repúdio pela situação do nosso mundo, no qual em cada 6 segundos morre uma criança por causa da fome; no qual em cada dia morrem 14.000 crianças vítimas da fome.

A marcha começa na Torre de Belém, às 10h e termina nas Docas.

A partir daí a Cáritas Portuguesa organizará um segundo momento do evento, completamente autónomo em relação ao primeiro, mas dando-lhe o complemento preciso, porque mais profundo: caminharemos até ao local onde vamos celebrar a Eucaristia como sinal da entrega de Jesus a todos nós e como sinal de compromisso de uns com os outros. E, no final, em jeito de refeição fraterna, partilharemos a merenda (ligeira) que levarmos. Esperamos que no final possamos ter algo como um “Manifesto” para ser a quem for conveniente.

Procuremos juntar-nos ao que já está organizado. Se tal não existir, nada nos impede de nós mesmos organizarmos algum gesto que nos leve a tomar consciência das situações de injustiça e, ao mesmo tempo, procurar algum compromisso na linha da justiça tanto para os que estão longe como para os que estão perto. E, porque é o Dia da Criança, que boa oportunidade para ajudá-las a “ver”, a “sentir” e a “fazer” alguma pequena coisa com vista a um mundo melhor!

José de Frias Gomes
Caritas Diocesana de Lisboa
Presidente da Direcção”

Fonte:                                                              http://www.agencia.ecclesia.pt/ecclesiaout/caritas/imprimir.asp?noticiaid=1733