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Category Archives: Esfera doméstica

On her first day back to work after a four-month maternity leave, Amy Vachon woke at dawn to nurse her daughter, Maia. Then she fixed herself a healthful breakfast, pumped a bottle of breast milk for the baby to drink later in the day, kissed the little girl goodbye and headed for the door.

But before she left, there was one more thing. She reached over to her husband, Marc, who would not be going to work that day in order to be home with Maia, and handed him the List. That’s what they call it now, when they revisit this moment, which they do fairly often. The List. It was nothing extraordinary — in fact it would be familiar to many new moms. A large yellow Post-it on which she had scribbled the “how much,” “how long” and “when” of Maia’s napping and eating.

“I knew her routines and was sharing that with Marc,” Amy recalls.

She also remembers what he did next. Gently but deliberately, he ripped the paper square in half and crumbled the pieces into a ball.

“I got the message,” Amy says.

That message was one the Vachons had agreed on from the evening they met, though they were clearly still tinkering with the details. They would not be the kind of parents their parents had been — the mother-knows-best mold. Nor the kind their friends were — the “involved” dad married to the stressed-out working mom. Nor even, as Marc put it, “the stay-at-home dad, who is cooed at for his sensitivity but who is as isolated and financially vulnerable as the stay-at-home-mom.”

Instead, they would create their own model, one in which they were parenting partners. Equals and peers. They would work equal hours, spend equal time with their children, take equal responsibility for their home. Neither would be the keeper of the mental to-do lists; neither of their careers would take precedence. Both would be equally likely to plan a birthday party or know that the car needs oil or miss work for a sick child or remember (without prompting) to stop at the store for diapers and milk. They understood that this would mean recalibrating their career ambitions, and probably their income, but what they gained, they believed, would be more valuable than what they lost.

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Lar, renúncia, ónus, impedimento, desigualdade. Estes são vocábulos que convergem para uma temática cuja discussão deve ser exaustiva e alargada: a distribuição das tarefas domésticas.

Em Portugal, a organização do lar continua a ser uma incumbência, por excelência, das mulheres, que detêm as funções de housekeeper e childcare.

De acordo com dados da European Social Survey de 2004, os homens portugueses foram os europeus que mais afirmaram não ter discussões em casa por causa da divisão das tarefas domésticas. Ora, esta revelação aflui uma ilação capital: a existência de um arraigado tradicionalismo nas relações de género, que circunscreve a mulher ao lar (promovendo a sua inerência) e perpetua a “naturalidade” do grosso ónus feminino na organização da esfera doméstica.

Em entrevista ao PÚBLICO, os sociólogos Anália Torres e Bernardo Coelho mostram que a “tendência no plano dos valores é para uma maior igualdade e para os homens assumirem iguais responsabilidades na família, na casa e no cuidado com os filhos. Mas, na prática, os valores tradicionais das relações de género na família estão profundamente enraizados nas formas de agir de todos os dias de homens e mulheres. Esta incerteza ou ambivalência perante a mudança é particularmente evidente para Portugal, dada a persistência de valores tradicionais”. Contudo, os sociólogos advertem: “se é verdade que subsiste a interiorização de tradicionais papéis de género (masculinos e femininos), também não se pode dizer que isso signifique a aceitação passiva”.

Mesmo não havendo uma “aceitação passiva”, os papéis de género – que atribuem um valor, uma atitude, um comportamento a cada homem e mulher – são manifestamente diferentes. Esta distinção, bafejada pelo patriarcado, redunda na subalternização feminina e numa coexistência flácida e empobrecida entre os indivíduos.

Por conseguinte, ressalte-se: a participação equitativa na organização do LAR evita a RENÚNCIA dos interesses de um dos cônjuges, distribui o ONÚS das tarefas e bane os IMPEDIMENTOS colocados mormente às mulheres – que se vêem coagidas a conciliar a vida doméstica com a profissional –, erradicando a DESIGUALDADE que sustenta as sociedades hodiernas!

Anabela Santos

Os contributos dos cônjuges na organização da esfera doméstica são nitidamente distintos, em muito devido aos alicerces patriarcais que sustentam as sociedades da hodiernidade. O ingresso da mulher ocidental no mercado de trabalho libertou-a das correntes da dependência masculina, conferindo-lhe autonomia. Todavia, a independência económica não foi suficiente para garantir um status feminino equiparável ao masculino.
Embora tenha deixado o lar para desempenhar uma profissão “fora de portas”, a mulher continua a arcar com o ónus das tarefas domésticas quase exclusivamente. Ora, é precisamente o que demonstra um estudo desenvolvido pela Universidade de Stavanger, na Noruega, envolvendo cerca de 18 mil casais de 34 países, com idades compreendidas entre os 25 e os 65 anos. O estudo revela que a participação do casal na organização da casa depende da posição da mulher na sociedade, estando igualmente relacionada com o nível económico do país. Há uma menor diferença na distribuição das tarefas domésticas nas sociedades mais equitativas, nas quais as mulheres detêm papéis relevantes. Esta divisão é condicionada por dois factores: no caso das mulheres, pelo nível da cimentação da Igualdade de Género; os homens mostram-se mais influenciados pela economia.
Na Noruega, as mulheres despendem 12 horas semanais nas tarefas domésticas e os homens cerca de 4 horas. Por outro lado, os mexicanos são os que dizem colaborar mais em casa, com uma participação superior a 12 horas. No entanto, as mexicanas continuam a trabalhar mais do que os seus cônjuges. O investigador Knud Knudsen referiu que não há país no mundo onde a participação masculina na esfera doméstica seja superior à feminina e, mundialmente, as mulheres desempenham dois terços das tarefas do lar! As chilenas são as que dedicam um maior número de horas à organização da casa: 38 horas semanais, seguidas pelas brasileiras (33 horas) e pelas irlandesas (32 horas).
Em suma: o rótulo de “housekeeper” continua a ser atribuído à mulher, independentemente dos níveis socioculturais dos países. O homem é tão-somente encarado como um mero coadjuvante, cabendo a principal responsabilidade da gestão e execução das tarefas à mulher.
Chega de confinar a mulher ao lar, chega de falsos ditongos e apupos de igualdade porque ela não existe! É necessário banir pequenas grandes bolas de cotão como a distribuição desequilibrada nas tarefas domésticas para que a consigamos terminantemente alcançar.
Anabela Santos


Numa perspectiva macro-sociológica, a teoria da rotulagem considera que há um conjunto de códigos, por sua vez resultantes da disparidade social, que diferenciam dois tipos de comportamentos na base do género – fala-se, então, em “sinais de etiquetagem”. Neste sentido, ainda na Sociedade de hoje cabe ao homem ser um “bom pai do ponto de vista financeiro” e à mulher manter a sua posição de dona ou “fada do lar”. “Ao homem a honra, à mulher a vergonha”!? No entanto, a corrente sócio- biológica veicula a ideia de que sendo o homem um ser activo e naturalmente agressivo, está mais propenso para o combate público e para o sucesso, enquanto que a mulher construtora biológica, detém um carácter mais passivo e está orientada para a procriação e para o cuidado da casa. Poder-se-á constatar então que há uma posição ideológica patriarcal justificada pelo domínio do mais forte social e politicamente: o homem. De facto, não se rotulam teorias, rotulam-se, antes demais, seres diferenciadamente vinculados por uma relação patricêntrica: “ Mulheres, obedecei aos vossos maridos.” [máxima de S. Paulo].Outros sinais mais subtis explicitam sinais de honra ligados ao homem e de vergonha ligados à mulher: a partir do diferente fenótipo sexual, acentuam-se determinadas dicotomias, tais como o domínio do público ou do formal ligado ao homem face à posição de reduto privado, informal, doméstico e emotivo ligado à mulher. Para além disso, podemos definir outros tantos sentidos: um de foro emotivo, espontâneo e natural, logo, feminizante e outro culto, racional e ponderado, logo, racionalizante ou masculinizado. Por conseguinte, forma-se uma espécie de poder patriarcal compartimentado, que estabelece a distinção entre formal e informal e sobrevaloriza a esfera pública em detrimento da doméstica – daí se constatar, simbolicamente, que o centro se liga ao homem e o banal ou a periferia se liga à mulher.

Estas concepções tiveram desde há muito o contributo de várias, entre as quais, a teoria freudiana que assentava na seguinte linha interpretativa: “ Os rapazes são induzidos a recalcar os seus impulsos libidinosos para com a mãe, as meninas são constrangidas a refrear a sua tendência erótica para com o pai e identificar-se com a mãe” (complexo de Édipo – principio do prazer). Ora, há uma construção de género que, mais uma vez, nos conduz a uma realidade social: ao homem associa-se o prazer, à mulher o constrangimento e o refreamento sexual.

Na esfera organizacional e de poder, os homens detêm as alavancas do poder a vários níveis e tendem a perpetuar-se nas instâncias de decisão em detrimento das mulheres que detêm, em regra geral, um papel subordinado: em casa, na escola, na vida politica, etc.
Ora, num estudo realizado, as mulheres apresentaram taxas de desemprego bastante superiores às registadas nas mesmas faixas etárias para os homens, excepto para os segmentos considerados não reprodutivos em que são bastante similares às registadas para os homens das mesmas idades. Este último dado indica que há discriminação de género e ela está associada à gestação e à criação de filhos, responsabilidade que na nossa sociedade é quase que exclusiva das mulheres. Em relação às condições de trabalho, verificou-se que o padrão de ocupação das mulheres no mercado de trabalho é muito mais frágil que o observado para o tipo de contrato do trabalhador do sexo masculino.
Quanto às funções exercidas em 1996, a proporção de mulheres que desempenha funções não qualificadas é mais que o dobro da observada entre os homens. Quanto ao rendimento médio das mulheres no mesmo ano, correspondia a 60% do obtido pelos homens. A pesquisa constatou ainda que as diferenças de rendimentos entre homens e mulheres existem em todos os sectores da actividade económica, inclusivé por posição na ocupação e em grupos de ocupações semelhantes.
Em suma, há diversos códigos e rótulos que redistribuem a conflitualidade interior e a transmitem para a Sociedade, promovendo um estado de anomia social na base de diferenciações de género: salários desiguais, avaliação erótica e estética de falsa consciência, concepção do tempo e do espaço nos termos do “uso” e do “abuso”, etc. Isto é, a mulher usa o tempo interior para a função doméstica e o homem abusa do tempo e espaço para reforçar o saber, habilidade, força física dando sentido à sua concepção de honra social, ironicamente.
Assim, diversos sinais multiplicam-se numa conjuntura de instabilidade de género por medo, por vergonha, de pura mágoa social…

Quadros característicos de uma sociedade fundamente falocrática evidenciam-se ainda no contexto nacional e tornam-se particularmente flagrantes quando atentamos no contributo dos cônjuges na organização da vida familiar/privada.
Tradicionalmente, à mulher atribui-se o papel de housekeeper, bem como o de child care enquanto ao homem inere mormente a função de provider, isto é, a responsabilidade de garantir o sustento da família.
Com o ingresso da mulher no mercado de trabalho, era expectável que esta atribuição de tarefas fenecesse e que se alcançasse uma participação paritária de cada cônjuge. Todavia, os cenários de coabitação actuais revelam uma realidade bem diferente: a gestão e execução das tarefas domésticos são incumbidas (quase em exclusivo!) à mulher; o homem apresenta-se como uma figura isenta de quaisquer funções ou como um mero coadjuvante que se ocupa de complexas tarefas como a de depositar o lixo no devido local.Veja-se: a participação masculina diária nas tarefas domésticas e nos cuidado à família é de apenas 1 hora, enquanto a mulher dedica 4 horas. Contudo, o tempo disponibilizado pelos homens nos cuidados com os filhos aumentou, como revela o estudo “Vida Conjugal e Trabalho” (2004), da socióloga Anália Torres.

Há quem sustente que a vulnerabilidade da mulher no mercado de trabalho no que respeita à sua remuneração, qualificação e permanência constitui a principal razão para esta divisão deficiente. Também, mas Não só! A tendência para considerar o universo privado/doméstico como o espaço exclusivo da mulher, assim como o preconceito que germina à volta de tudo isto assumem-se igualmente como importantes factores.
A distribuição assimétrica tem como corolário primeiro a imposição à mulher da fatigante conciliação da vida profissional (produção) com a doméstica (reprodução). O homem, por sua vez, tem inteira disponibilidade para se dedicar à sua profissão e um seu esporádico contributo é visto como um benevolente gesto da sua pessoa, não sucedendo o mesmo em relação à mulher. E quando se questiona o homem português sobre a sua participação na vida familiar, a resposta não varia: “Sim, ajudo quando posso!”. Na verdade, a utilização do verbo “ajudar” já revela em si uma distribuição assimétrica das responsabilidades concernentes à esfera privada.
Não basta ajudar! É preciso participar paritariamente, sem que o ónus das tarefas recaia exclusivamente num dos cônjuges, geralmente na mulher.

Anabela Santos
AnabelaMoreiraSantos@sapo.pt